Compro pouquíssimos livros, a maioria requisito na biblioteca pública. Mas quando li a sinopse deste “Eu Canto e a Montanha Dança”, da autoria da catalã Irene Solà, percebi que era para comprar e não me arrependi. Sei que o vou voltar a ler e sei que vou voltar a surpreender-me uma vez e outra.
O que é que me levou a querer lê-lo?
O facto de ser uma história inventada (ando com pouca vontade de ler relatos verídicos, biografias ou autoficção) e prendeu-me a atenção a conjuntura poética e mágica que envolve as personagens. Também me interessou saber que a história se passa nas montanhas catalãs, por entre árvores centenárias, animais, bruxas, gente de carne e osso, pessoas do presente e outras do passado que se fazem presentes com realidade bruta à mistura, sem bolhas virtuais nem imitação de rusticidade.
O que me cativou durante a leitura?
O livro parte de um episódio dramático (um homem morre na montanha atravessado por um raio – isto é logo revelado, não se zanguem comigo) e, a cada capítulo, somos convidados a, de alguma forma, aceder a partes dessa história (ou de histórias que tocam nessa história inicial) contadas de diferentes perspetivas, como se fôssemos pássaro, corço, urso, menina, mulher do homem queimado pelo raio, entre outras várias personagens. Cativou-me também o facto de este ser um livro sem data, porque convoca memórias de todos os seres que vivem ou viveram na montanha desde tempos imemoriais, e usa uma linguagem que é património e não fruto de uma moda ou tendência. Mas é também um livro deste tempo, e percebe-se isso quando há uma referência às redes sociais ou ao turismo que chega à aldeia.
Recomendo?
Sim, recomendo. Além de tudo o que já referi, os poemas do filho de Domènec de Matavaques (o homem morto pelo raio e que era um camponês-poeta) são lindos. Partilho aqui um excerto:
Vem, mãe, vamos falar
das coisas que acontecem na floresta, à noite,
das coisas que acontecem no coração, à noite.
➡️ Irene Solà, in “Eu Canto e a Montanha Dança”, Cavalo de Ferro, 2024
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