“Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida”.

Clarice Lispector, in “Um Sopro de Vida”

O que é a escrita terapêutica?

Se nos lembrarmos do efeito positivo que quase todos já sentimos quando, em determinada altura da nossa vida (provavelmente na adolescência), confessámos a um diário coisas que julgávamos que não podíamos contar a ninguém, facilmente percebemos o potencial da escrita terapêutica.


A escrita terapêutica assenta no poder da escrita enquanto ferramenta de expressão de sentimentos, emoções, pensamentos e experiências, com vista a promover um espaço livre de regras e de julgamentos e, assim, proporcionar uma melhor compreensão de questões pessoais, bem como facilitar a gestão de problemas emocionais, traumas, entre outros.
Dito de forma mais simples, escrever sobre nós e o nosso mundo interno (e também externo) ajuda-nos a atribuir significado ao que nos vai acontecendo na vida, enquanto nos auxilia a conhecermo-nos melhor a nós, à nossa história, e a perceber como nos relacionamos com os outros. A escrita terapêutica encerra, portanto, infinitas possibilidades de sanação, autoconhecimento e de desenvolvimento pessoal importantes, bastando para isso escrever sobre o tema mais próximo de cada um de nós: o eu.

 

É preciso estar a fazer terapia para recorrer à escrita terapêutica?

Não é necessário, mas é importante que tal aconteça se o objetivo for potenciar as tomadas de consciência que resultam da escrita. Ou seja, uma vez que escrever sobre o nosso mundo interno, nomeadamente, sobre os nossos sentimentos, emoções, pensamentos e experiências (traumáticas ou não) aumentam a consciência que temos sobre nós e a nossa vida, pode ser importante (e, nalguns casos, determinante) fazer o processo com acompanhamento de um terapeuta. Este não só facilitará o processo (por exemplo, propondo exercícios adequados às temáticas em causa) como irá acolher, escutar, suster e acompanhar quando as tomadas de consciência se aprofundarem e tocarem em pontos de maior vulnerabilidade para a pessoa que recorre à escrita.

A escrita terapêutica destina-se apenas a quem gosta de escrever e tem jeito para o fazer?


Não. A escrita terapêutica destina-se a todas as pessoas que tenham curiosidade em explorar esta ferramenta terapêutica, tendo em conta que em nenhum momento estará em causa a sua aptidão para escrever. Isto porque a escrita terapêutica não segue regras, não presta atenção à gramática nem há qualquer tipo de avaliação sobre os textos produzidos. Cada pessoa é convidada a escrever da forma mais verdadeira que conseguir, de preferência sem racionalizar, recorrendo às palavras que usa no dia a dia para se expressar, mas com a diferença que aqui é convidado a escrever à mão, respondendo aos exercícios propostos.

Como é que a escrita é aplicada em contexto terapêutico?
Tendo em conta as questões que a pessoa traz para trabalhar em terapia, pode tornar-se claro que o recurso à escrita terapêutica pode ajudar a elucidar temas específicos e, nesse sentido, são propostos exercícios pontuais direcionados.
Pode também acontecer que a procura de apoio terapêutico aconteça porque a pessoa se sente algo perdida ou busca alguma clarificação (por exemplo, sobre si, sobre o seu percurso profissional, as suas relações ou objetivos de vida, etc.) e, nesse sentido, serão apresentadas propostas temáticas amplas de reflexão, com vários convites estruturados no sentido de levar a pessoa a refletir sobre si através da escrita e ao longo de um processo que poderá demorar algumas semanas.

Que tipo de exercícios de escrita terapêutica são propostos?


São muito diversificados os tipos de exercícios que podem ser propostos no âmbito da escrita terapêutica, além de que são sempre adaptados à pessoa e à situação em causa. Entre os exercícios mais comuns estão a escrita de cartas, os convites de escrita fluida ou de fluxo de consciência, bem como os exercícios de escrita dirigida (resposta a questões específicas) e até de escrita facultativa. A escrita de um diário (atividade também designada como journaling) pode ser também um dos exercícios propostos.

 

Quais são os benefícios da escrita terapêutica?

São vários os benefícios trazidos por esta técnica, nomeadamente:

• Aumentar a consciência sobre quem somos e dos recursos que possuímos;
• Tomar contacto com a nossa biografia e encontrar novos ângulos de observação sobre a história que contamos sobre nós;
• Ressignificar acontecimentos;
• Trazer clareza sobre o passado, o presente e o futuro, nomeadamente, definir objetivos a alcançar;
• Contribuir para a resolução de problemas, pois escrever sobre os mesmos permite, muitas vezes, perspetivá-los de forma mais clara e organizada, encontrando soluções que ainda não tínhamos equacionado;
• Aprofundar o contacto com emoções e sentimentos que guardamos em nós, muitas vezes, ao longo de anos;
• Melhorar a expressão de emoções e sentimentos (como consequência do ponto anterior);
• Alívio emocional, pelo facto de escrever sobre emoções intensas ou traumas passados;
• Entrar em contacto com a nossa criatividade, imaginação e intuição;
• Ajudar a reduzir o stress, a ansiedade e a melhor lidar com a depressão;
• Contribuir para priorizar problemas, medos e preocupações;
• Permitir acompanhar a evolução de sintomas e pensamentos, de forma que possamos estar mais atentos à evolução de questões de saúde física e mental;
• Reforçar o sistema imunológico (há evidência de que escrever sobre emoções e sentimentos está associado a um maior número e/ou atividade das células imunológicas).

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