Uma das coisas de que mais gosto na meditação é que não tenho de chegar a lado nenhum.

Quando me sento, sei que não tenho nenhum objetivo a cumprir, nenhuma performance a realizar, nada a provar a ninguém – nem sequer a mim própria, que sou, talvez, o meu público mais exigente. Tudo o que eu fizer (ou não fizer, para ser um pouco mais exata, mas não totalmente exata) durante aqueles 22 minutos em que me sento em silêncio, estará bem e será suficiente.


Mesmo que os pensamentos pareçam atacar-me, aproveitando que estou sossegada, ainda que haja dias em que rumino nos mesmos assuntos e sentimentos, ainda que me doam as pernas e sinta comichões… mesmo que tudo isto em simultâneo… ainda assim, regresso à respiração e sei que medito. Digo-me que sou suficiente.


Ser suficiente – talvez a quimera dos tempos modernos.


Numa altura em que a comparação parece ser o denominador comum (ainda que tantas vezes inconsciente) de muito do que somos e fazemos, sentir que se é suficiente é profundamente raro. Para algumas pessoas, chega a ser profano. Mas é verdadeiramente bom e necessário. Sentir que se está bem como se está – e com o que se é – liberta-nos (por exemplo, do perfecionismo).


Esta manhã, já no final da minha meditação, lembrei-me (pois…) que meditar é não ter de chegar a lado nenhum (porque já lá estamos, como diz e escreve Jon kabat-Zinn). Meditar é praticar a aceitação da imperfeição e, ainda assim, sentir-me suficiente.