Ao contrário do que o título sugere, o livro “Ser Mortal” não é exatamente sobre a morte. É sobretudo sobre a forma como queremos, ou podemos, viver a morte. A nossa e a dos que nos são próximos.


Atul Gawande é um famoso cirurgião, escritor e investigador na área de saúde pública. Escreveu “Ser Mortal” depois de ter estado ao lado do pai no caminho de uma doença oncológica. Sentiu na pele as angústias e inquietações que muitas vezes viu nos doentes que acompanhou, ainda que na altura não as compreendesse totalmente. Quando, finalmente, percebeu, foi em busca de respostas.


Nesta obra – que já tem alguns anos, mas continua atual – aborda a forma como os idosos foram e são cuidados em diferentes culturas. Entrevista centenas de pessoas, entre idosos e cuidadores, e investiga as respostas que existem, colocando o dedo na ferida e expondo o que são alguns lares de terceira idade. Mas deixa também esperança, ao apontar soluções adequadas e possíveis.

A importância dos cuidados paliativos

Acaba por desaguar na crucial área dos cuidados paliativos, revelando como até os pedidos de eutanásia diminuem quando estes cuidados são disponibilizados (de verdade e não apenas de nome). Porque ninguém quer sofrer, essa é a verdade, e os cuidados paliativos empenham-se com alma para que seja assim.

Quando terminei a leitura, lembro-me de sentir que estava perante um livro especial e muito necessário. Continuo a achar o mesmo. A importância dos cuidados paliativos é imensa e continua a haver necessidade de o dizer, para que o alívio do sofrimento esteja ao alcance de todos. É que, como repetem as pessoas que trabalham nesta área, quando se diz que não há nada a fazer, há muito ainda por fazer. E passar a palavra sobre os cuidados paliativos é também contribuir para isso.

“Nunca pensei que as experiências mais marcantes que já tive como médico – e, na realidade, como ser humano – adviriam de ajudar os outros a lidar não só com aquilo que a Medicina consegue fazer, mas sobretudo com aquilo que a Medicina não consegue fazer.” p. 250

Atul Gawande, in “Ser Mortal”, Lua de Papel, 2015.

Texto publicado originalmente no Instagram e Facebook no dia 03/10/2025, integrado na rubrica de sugestões literárias e biblioterapia