Atravessar um portal significa passar para um outro estado ou realidade. Tendo em conta que as estações do ano podem ser encaradas como portais, partilho um exercício de escrita terapêutica, como forma de honrar o outono como portal.
Em termos simbólicos e espirituais, um portal é um limiar entre estados, tempos ou dimensões, o qual aparece em muitas culturas como forma de explicar o desconhecido ou o transcendente. Como tal, atravessar um portal significa passar para outra realidade, fazer a transição entre o velho e o novo, o conhecido e o desconhecido.
Desde a pré-história que se encontram indícios da associação de certos locais – como cavernas, montanhas ou rios – a limiares de passagem entre mundos. A simbologia é transversal a diversas culturas e os portais podem ser apresentados na forma mais óbvia – portas ou portões – mas também como espelhos, túneis, estações do ano ou eclipses — qualquer coisa que marca uma passagem.
Convite à mudança
Um portal aparece como um convite à transformação – quando se decide atravessá-lo, aceita-se a incógnita e a mudança que isso implica. Nesse caso, há que deixar algo para trás, não dá para fazer a travessia e abarcar o que está à nossa espera do outro lado se levarmos o antigo connosco. Um portal é também um espaço de reflexão e escolha: o que decido levar comigo? O que deixo para trás?
Porque é que o outono é um portal importante?
- Marca o fim de um ciclo de atividade (verão) e prepara o terreno para o recolhimento (inverno).
- Convida à introspeção, porque os dias ficam mais curtos, o frio aproxima-se e há um convite a olhar para dentro.
- Simboliza desapego, já que as árvores deixam cair as folhas para garantir que não perdem energia e, assim, conseguem sobreviver ao rigor do inverno. Com elas, aprendemos a soltar o que já cumpriu seu papel.
- Abre espaço para o essencial, pois com menos luz e calor, voltamo-nos para o que nos nutre internamente – ideias, memórias, afetos.

Exercício de escrita terapêutica
As alturas do ano que nos oferecem portais podem ser aproveitadas para potenciar os nossos objetivos e processos internos de mudança. Uma das formas de o fazer pode ser através da escrita terapêutica. Partilho um exercício para hoje:
1 – Descreve o portal: Retira-te em silêncio com o teu caderno. Faz algumas respirações profundas e liga-te ao teu Eu Interior. Imagina que estás diante do “portal do outono” e descreve-o no teu caderno. Como é? De que forma está decorado? Como é o ambiente em volta ?
2 – Deixar para trás: Escreve o que precisas de deixar para trás ao atravessá-lo. Tem em conta pensamentos ou padrões de comportamento que já não te servem, relações, palavras, hábitos, ideias sobre ti ou sobre os outros.
3 – Nomeia o que levas contigo: o que é essencial para ti neste novo ciclo? Leva apenas aquilo de que necessitas.
4 – Do outro lado: Imagina quem te espera do outro lado. Uma versão tua mais sábia? Um “guia outonal”? Um novo projeto?
Uma vez que as estações do ano, e também os eclipses, por exemplo, podem ser encarados como portais, então, não há dúvida de que estamos perante um grande e poderoso portal. É que hoje é o equinócio de outono e ontem verificou-se um eclipse solar parcial. O que decides deixar para trás? Levas algo contigo? Quem (ou o quê) está do lado de lá?