Há momentos negros na vida de cada um, momentos de deserto sem fim, caminho de pedras, em que nada parece estar certo e em que tudo o que nos acontece é uma provação. Questionamos as escolhas que fizemos ao longo da vida e que nos trouxeram até este momento, pomos em causa decisões que, em tempos, pareciam ter sido acertadas. Duvidamos e sofremos. Duvidamos, sofremos e sentimos um cansaço desmesurado, e não sabemos onde é que iremos buscar forças para continuar.


Se escrevo isto é porque já lá estive. Se estás a ler isto é porque já lá estiveste, quase de certeza.
Ontem à noite, pensava nisto tudo e em como, tantas vezes, nestes desertos, a única coisa a que talvez nos consigamos agarrar seja à fé, à esperança. Não é explicável, não me venham dizer que é científico (embora haja muitos estudos sobre o tema, eu sei), não é sequer suscetível de prescrição ou aconselhamento. É algo que se sente, no âmago, mesmo que de forma ténue ou tímida, mesmo que se vacile e hesite, mesmo que não se saiba muito bem que fé ou esperança sejam estas e em quê (o facto de a fé ser associada, histórica e erradamente, criando uma relação quase única com as religiões, não ajuda). A fé, a esperança, podem salvar-nos. Acreditar que seguindo devagar, um dia depois do outro, ao ritmo possível, vamos andando e conseguindo. O binómio fé/esperança como um corrimão a que nos agarramos, como um fio de Ariadne que nos guia até à saída do labirinto. A fé. A esperança.

Hoje, a minha partilha não podia ser outra que não esta. Por todas as pessoas que estão a sentir-se perdidas, cansadas, a fazer o caminho das pedras. Que saibam que há sempre um corrimão. Há. E, lá fora, há jacarandás floridos (ontem fui vê-los e há pouco passei por muitos outra vez).

Nota: Reflexão publicada nos meus perfis do Instagram e Facebook na altura em que os jacarandás estavam a florir. 🌸💜