Há muitos anos, senti necessidade de fazer terapia pela primeira vez. Na altura, pedi o contacto de uma terapeuta a uma amiga e lembro-me bem da cara de espanto dela e da frase que me disse, qualquer coisa como: “Para ti? Mas… pareces-me tão resolvida, tão arrumada.”

Ainda hoje penso nisso (aliás, cada vez penso mais nisso), penso no engano que é encarar-se a terapia como algo apenas indicado para quem está “estragado”, “mal resolvido” ou “desarrumado”, alguém a precisar de ser “consertado”.


A terapia não é isso (pelo menos, a terapia transpessoal não é isso). Ninguém está estragado nem a precisar de arranjo. Mas todos precisamos de ser cuidados, ouvidos, acolhidos e respeitados. Precisamos que nos vejam tal como somos. E a terapia permite isso. Ao revelarmo-nos como somos, permitimo-nos ser. E isso é sanador.

A frase da minha amiga vem ter comigo de tempos a tempos. Sobretudo, quando encontro pessoas “resolvidas” e “arrumadas”, que teriam tanto a beneficiar se se atrevessem a dar o passo no sentido de ganhar mais consciência sobre si. Se tivessem coragem de desarrumar os caixotes e as gavetas da sua vida, para ver o que lá vai dentro, para compreender o que ainda guardam (e porquê), e, depois, voltar a arrumar tudo, mas agora com consciência.


Não direi que a terapia é para toda a gente e em todas as circunstâncias da vida (não é e não é). Mas há momentos em que pode ser crucial, pode salvar-nos, pode mostrar-nos caminhos que nem suspeitávamos ou rejeitávamos, mas que eram – são – os nossos. Não só caminhos exteriores, mas, sobretudo, caminhos interiores.